segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Arcadismo

CARACTERÍSTICAS DO ARCADISMO

a) OPOSIÇÃO AO BARROCO – Proposta de linguagem simples, de frases na ordem direta e de palavreado de uso popular, ou seja, o contrário das pregações do seiscentismo.

b) VERSOS BRANCOS – Ao contrário do Barroco, o poeta árcade pode usar o verso branco (sem rima), numa atitude que simboliza liberdade na criação. No Brasil, Basílio da Gama foi o mais ousado: compôs o livro O Uraguai (poema épico) sem fazer uso da rima.

c) A POESIA COMO IMITAÇÃO DA NATUREZA – Os árcades copiavam os modelos clássicos antigos ou renascentistas, numa flagrante falta de originalidade. O poeta buscava, na natureza, os modelos de beleza, bondade e perfeição. Falta, pois, ao árcade a capacidade de inventar, comum nos poetas do Barroco, do Romantismo, do Simbolismo e do Modernismo.



 d) COMPROMISSO COM A BELEZA, O BEM, A PERFEIÇÃO – Compromisso com a poesia descritiva e objetiva. Nesse aspecto, a poesia árcade faz lembrar a época parnasiana. Há mais preocupação com situações do que com emoções.

e) PASTORALISMO – O poeta do Arcadismo imagina-se, na hora de produzir poemas, um “pastor de ovelhas”. É de supor que um pastor não disponha de linguagem sofisticada. Daí a idéia de simplicidade no escrever. O próprio tema da poesia converge para assuntos bucólicos, amorosos, com riachos, campinas, fontes, rebanho, ovelhas, cajado. A própria condição de amar e ser feliz é condicionada à convivência campestre.


f) USO DE PSEUDÔNIMOS – O poeta árcade adota nome falso porque se considera um “pastor de ovelhas”. É como se o escritor tivesse duas identidades: uma real, outra especial, usada apenas para compor poesias. Tomás Antônio Gonzaga, o nosso maior poeta árcade, era advogado e político na vida real. Na momento de compor poemas, transformava-se em Dirceu, um simples (às vezes nem tanto) pastor de ovelhas.

g) PRESENÇA DE MUSAS – Diz-se que a condição precípua para ser poeta, no Arcadismo, era estar apaixonado. Exageros à parte, a maioria dos poetas árcades brasileiros notabilizaram-se fazendo poesias líricas para suas amadas. Alguns comedidos (caso de Gonzaga que se inspirava em uma só mulher: Marília), outros mais ousados (caso de Cláudio Manuel da Costa que fazia poemas para Nise e Eulina), a verdade é que poucos se aventuraram à lavra pura e simples da poesia dissociada da figura feminina.

ARCADISMO NO BRASIL

QUADRO GERAL

a) Início: 1768 (meados do século XVIII).

b) Fim: 1836 (princípio do século XIX).

c) Livro inaugurador: Obras Poéticas (poesias líricas).

d) Primeiro autor: Cláudio Manuel da Costa.

e) Local onde o movimento nasceu: Vila Rica, atual Ouro Preto, Minas Gerais.

f) Capital do Brasil: Rio de Janeiro.

g) Movimento histórico importante: Inconfidência Mineira.


Motivos clássicos da poesia árcade.

Nos temas que a poesia árcade tematiza, são convencionais, existindo assim uma falta de originalidade do estilo em questão da recorrência aos motivos da poesia greco-romana e renascentista. Existe também a repetição dos mesmos temas. Vejamos alguns poemas que nos comprovem isso:

Carpe Diem.

Que havemos de esperar, Marília bela?
que vão passando os florescentes dias?
As glórias que vêm tarde já vêm frias,
e pode, enfim, mudar-se a nossa estrela.
Ah! não, minha Marília,
aprovei-te o tempo, antes que faça
o estrago de roubar ao corpo as forças,
e ao semblante a graça!

(Tomás Antônio Gonzaga).

Áurea Mediocritas.

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais a finas lãs, de que me visto,
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

(Tomás Antonio Gonzaga).

Autores

SANTA RITA DURÃO

O URAGUAI

Dados importantes sobre o livro:

1. CLASSIFICAÇÃO - Poema épico, escrito em decassílabos brancos, sem divisão em estrofes. Foge, assim, à imitação de Os Lusíadas, de Camões.

2. OBJETIVO DA OBRA - Satirizar os jesuítas e agradar o Marquês de Pombal, protetor do poeta.

3. PERSONAGENS PRINCIPAIS:
Lindóia - índia; heroína que morre picada por uma cobra. Cacambo - índio guerreiro; esposo de Lindóia. Pe. Balda - jesuíta; vilão da história. Caitutu - índio guerreiro; irmão de Lindóia. Tanajura - índia feiticeira. Gomes Freire de Andrade - chefe das tropas portuguesas.

SANTA RITA DURÃO

Nasceu em Cata Preta, Minas, em 1722.

Faleceu em Lisboa, em 1784.

Com pouca idade, foi mandado para Portugal, onde realizou estudos de Filosofia e Teologia, tomando hábito aos dezesseis anos.

Envolvido na polêmica contra os jesuítas, refugiou-se na Espanha e, mais tarde, na França e na Itália.

De suas produções poéticas, ficou o poema épico Caramuru (Lisboa, 1871), feito à imitação direta de Os Lusíadas, de Camões.

CARAMURU

Dados importantes sobre o livro:

1. CLASSIFICAÇÃO - Poema épico, escrito em decassílabos rimados, com divisão em cantos e estrofes. Imita, assim, o esquema tradicional imposto por Camões em Os Lusíadas.

2. TEMA CENTRAL - O poema narra, em dez cantos, o naufrágio de Diogo Álvares Correia (na costa da Bahia) e suas aventuras amorosas com as índias, sobretudo com Paraguaçu e Moema. O material é vasto: fatos da História, o temperamento e as lendas dos indígenas. O poema segue o esquema clássico camoniano, usando a oitava rima, obedecendo à divisão tradicional em proposição, invocação, dedicatória, narrativa e epílogo.

3. PERSONAGENS PRINCIPAIS: 
Diogo Álvares Correia - herói; náufrago português. Paraguaçu - índia, filha do cacique. Moema - amante de Diogo; morre afogada. Taparica - cacique; pai da índia Paraguaçu.

SILVA ALVARENGA



Manuel Inácio da Silva Alvarenga nasceu em Vila Rica, Minas Gerais, em 1749.

Morreu no Rio de Janeiro, em 1 de novembro de 1814.

Fez os estudos secundários no Rio de Janeiro e cursou Direito na Universidade de Coimbra. Ao longo do curso, escreveu e publicou, sob o patrocínio do Marquês de Pombal (Sebastião José de Carvalho e Melo - 1699-1782), O Desertor das Letras, poema herói-cômico de enaltecimento às reformas universitárias pombalinas.

TOMÁS A. GONZAGA

Nasceu em Porto (Portugal), em 11 de agosto de 1744. Morreu em Moçambique (África), em 1810 (66 anos).


Com oito anos, é trazido para o Brasil e matriculado no Colégio da Bahia.


De volta a Portugal, forma-se em Direito (Coimbra, 1768).


Em1782, é nomeado Ouvidor e Procurador em Vila Rica. É nessa época que compõe a maior parte dos poemas que formam sua obra.


Enquanto se envolvia com a Inconfidência Mineira, apaixona-se por Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, que imortalizaria nos poemas com o pseudônimo de Marília.


Implicado na Incofidência Mineira (1789), é preso e mandado para a Ilha das Cobras. Em 1792, condenado ao exílio, segue para Moçambique (África), onde refaz sua vida, casando-se com Júlia Mascarenhas, viúva rica e analfabeta.


Principal poeta do século XVIII (Arcadismo) no Brasil.


Único poeta satírico do século XVIII (Arcadismo).


Adotou o nome árcade de Dirceu.


OBRAS DE TOMÁS A. GONZAGA

1. Marília de Dirceu (poesias lírico-amorosas).
2. Cartas Chilenas (poesias satíricas).
As Cartas Chilenas são poesias satíricas contra as arbitrariedades de Luís da Cunha Meneses, governador de Minas Gerais. As Cartas, em número de treze, circularam em Vila Rica entre 1788 e 1789. Constituem um poema satírico incompleto, em versos decassílabos e brancos. Nelas, as personagens eram assim disfarçadas:

a) Tomás Antônio Gonzaga – Critilo.


b) Luís da Cunha Meneses – Fanfarrão Minésio.


c) Recebedor das Cartas – Doroteu.


d) Minas Gerais – Chile.


e) Vila Rica – Santiago do Chile.


ANTOLOGIA COMENTADA

AS LIRAS DE GONZAGA – Marília de Dirceu é um longo poema de amor, dividido em pequenas unidades chamadas Liras. O motivo principal da obra é paixão do pastor Dirceu, com mais de quarenta anos, pela pastora Marília, com apenas quinze. Talvez por isso, haja obsessão pelo fator tempo. Nos versos a seguir, o poeta tenta mostrar à namorada que não é um pastor qualquer:

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,

que viva de guardar alheio gado,
de tosco trato; de expressões grosseiro,
dos frios gelos e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal e nele assisto;
dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
das brancas ovelhinhas tiro o leite
e mais as finas lãs, de que me visto.

Graças, Marília Bela,

graças à minha estrela!

Eu vi o meu semblante numa fonte:

dos anos inda não está cortado;
os pastores que habitam este monte
respeitam o poder do meu cajado.
Com tal destreza toco a sanfoninha,
que inveja até me tem o próprio Alceste:
ao som dela concerto a voz celeste,
nem canto letra que não seja minha.

Graças, Marília Bela,

graças à minha estrela!

SEGUNDA PARTE DAS LIRAS
– Veja agora um exemplo de poesia composta na prisão. É a segunda parte das Liras de Gonzaga:

Já não cinjo de louro a minha testa;

Nem sonoras canções o Deus me inspira:

Ah! que nem me resta

Uma já quebrada,
Mal sonora Lira!

Mas neste mesmo estado em que me vejo,

Pede, Marília, Amor que vá cantar-te:

Cumpro o seu desejo:

E ao que resta supra
A paixão, e a arte.

A fumaça, Marília, de candeia,

Que a molhada parede ou suja, ou pinta,

Bem que tosca, e feia,

Agora me pode
Ministrar a tinta.

 

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